Sobre "felizes para sempre!"

Vamos falar dos nossos romances e do tão sonhado “felizes para sempre”? Vamos sim!
Bom, primeiro é preciso saber que o amor não entra em nossas vidas para calar a solidão, para doer menos que o outro, ou tampouco para assinar contratos de amor eterno, custe o que custar. Porém — entretanto, acredite — é isso que você vem consumindo culturalmente por um bom período da sua vida.
Navegar nos mares turbulentos do amor exige coragem, autoconhecimento e integridade. Mas, por muito tempo, você absorveu dos filmes, dos livros e das novelas que a sua plenitude e felicidade só são conquistadas em par. Que você, enquanto só, tem uma parte faltante, uma metade, uma alma gêmea vagante e perdida. Em consequência disso, você, como ser ímpar, sempre se verá vazio, solitário e incompleto!
Meu caro, minha cara, você não é parte de um quebra-cabeça — você é ele inteiro. O amor não é um jogo de encaixes, mas de cartas que você deve jogar na mesa. A questão aqui vai muito além de honestidade: é também sobre responsabilidade afetiva. É contrato de afeto sem letras miúdas, com cláusulas claras e objetivas. Logo, se não estiver pronto para ter esse amor da sua forma mais autêntica — e não por osmose culturalmente imposta — a opção mais saudável é virar um aventureiro solitário nas qualidades da solitude. Usar o outro para suprir suas vontades e carências sem as cartas na mesa é, no mínimo, falta de caráter!
Identifique-se quanto a ser único, sólido e com a obrigação de se fazer feliz sem delegar isso a outrem.
Seja íntegro!
Essa cultura de amores felizes e eternos, que há tempos nos é atirada como linda, perfeita e modelo, pode te aprisionar naquilo que não é digno de amor — e você sangrará um bocado até perceber isso!
Claro, não estou aqui para condenar o amor romântico e tradicional, pois tenho muito dele. Estou aqui porque um dia sangrei e me aprisionei nele. E, nesse coágulo, questionei o que eu precisava passar para ter amores como os de meus familiares, tios e primos — longos, inquebrantáveis e cúmplices.
Na luz desse questionamento, me deparei com tudo que não quero, com tudo que me dói e destrói…
Logo:
Ciúmes não é amar demais, é insegurança e posse;
Controle não é cuidado, é possessividade;
Energia com dores não é personalidade forte, é agressão;
Sexo com culpa não é prazer, é caridade;
Desnudar-se em palavras sem reciprocidade não é empatia e diálogo, é controle;
Praticidade nem sempre é questão de maturidade, mas de indiferença;
A fidelidade, mesmo com um terceiro ou quarto, ou quinto, só existe quando realmente leal a seus princípios, atitudes e fala, caso contrário, é só hipocrisia velada por palavras para prender o outro e acalentar a sua carência!
Aquele que cabe nos seus sonhos só está nos seus sonhos!
A realidade é cruel e nada romântica. Sempre haverá algo que incomoda — e se só incomoda, tudo bem, podemos acertar ou simplesmente ignorar. Se não há incômodos, meus amores, não é amor: é paixão. E paixão tem prazo de validade!
Amor não é feito para doer menos ou para ser cheio de atritos e turbulências. A turbulência só deve ser boa na cama!
Para que sangrar por medo da solidão?
Para que doer para cumprir contratos culturais, seguir tradições ou ser mais cômodo?
Não precisa!
Justamente os que julgam a integridade como algo banal e profano são os que têm amores conturbados, agressivos, dolorosos, infiéis — e vivem com as máscaras de contratos sociais de amor feliz, parceiro e eterno!
Manter a racionalidade dentro desses “amores” não é fácil, e o desprendimento tampouco. Mas, quando você sabe o que quer, o que é, e preza sua paz e felicidade, toda essa turbulência será evitada quando você se ouvir e se respeitar!
Por outras vias, o destino nos prega peças, e a gente às vezes cai por carência. Mas sabe por que isso acontece? Sua voz interior não te convenceu do contrário. Pois ouvir, você ouviu — mas sua carência falou mais alto!
Quando você ama e quer, é porque só incomoda;
Quando você ama e não quer, é porque dói!
Seja íntegro, se respeite e se liberte dos cárceres!
Trate suas dores, pois cultivá-las lhe trará cicatrizes e uma culpa difícil de perdoar!
🎯 Glossário Temático
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Amor românticoÉ um conceito cultural e afetivo que idealiza o relacionamento entre duas pessoas como sendo intenso, exclusivo, eterno e essencial para a felicidade individual. Ele costuma ser marcado por elementos como paixão arrebatadora, idealização do parceiro, fusão emocional, fidelidade e promessas de “felizes para sempre”.
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Autossuficiência emocionalÉ a capacidade de uma pessoa reconhecer, acolher e lidar com suas próprias emoções sem depender do outro para se sentir validada, completa ou feliz. Ela não significa isolamento ou frieza, mas sim autonomia afetiva: um equilíbrio interno que permite amar sem se anular, estar só sem se perder, e se relacionar sem se aprisionar.
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Responsabilidade afetivaÉ a prática de agir com honestidade, empatia e respeito nas relações interpessoais, reconhecendo que nossas atitudes emocionais impactam diretamente o outro. Trata-se de assumir que, ao nos vincularmos a alguém — seja num relacionamento amoroso, amizade ou qualquer laço afetivo —, somos também responsáveis por cuidar da forma como nos comunicamos, envolvemos e nos despedimos.
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Relações abusivasSão vínculos em que uma das partes exerce poder, controle ou manipulação sobre a outra, de forma repetitiva e prejudicial, seja no campo emocional, físico, psicológico, sexual, financeiro ou social. Mesmo sem violência física, esse tipo de relação pode causar danos profundos à autoestima, liberdade e saúde mental da pessoa envolvida.




Me identifiquei, vivi é vivo 😔
ResponderExcluirProcure se ouvir mais, conhecer e respeitar sempre os seus limites. A ajuda profissional é importante para te dar suporte quando precisar ou se sentir sufocada e sem saídas para estas situações. Obrigado pela leitura! ❤️
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